Escalas Wechsler de Inteligência: Quando eu uso o WASI e quando eu uso o WISC/WAIS?

Escalas Wechsler de Inteligência: Quando eu uso o WASI e quando eu uso o WISC/WAIS?

As Escalas Wechsler de Inteligência estão entre os testes mais famosos, utilizados e reconhecidos para a avaliação da inteligência. As escalas são atualizadas periodicamente, em versões que atualizam sem problemas, normas e uso clínico em função das evidências científicas mais recentes. No Brasil as versões mais utilizadas são o WISC-IV (voltado para crianças e adolescentes), o WAIS-III (voltado para adultos) e o WASI (versão abreviada, para todas as idades). Uma pergunta comum, sobretudo aos recém-formados em psicologia e os profissionais que estão iniciando sua atuação em avaliação psicológica e neuropsicológica é sobre qual escala comprar ou qual contexto uso cada uma delas. Vou dar minha percepção sobre ambas as perguntas, mas não objetivo por motivo algum ser determinista nessas sugestões.

Vamos começar pelas diferenças fundamentais entre ambas. As escalas completas (WISC/WAIS) apresentam múltiplos subtestes que permitem a avaliação não só do QI geral, mas de aspectos mais específicos da inteligência (em termos mais genéricos, não necessariamente a nomenclatura da escala, processamento visioespacial, linguagem, memória de trabalho e velocidade de processamento). O WAIS-III teve suas normas atualizadas no ano de 2020 tornando-se uma excelente alternativa para a avaliação da inteligência em adultos em casos em que há maior disponibilidade de tempo para o exame e/ou a necessidade de usar subtestes específicos para acessar domínios cognitivos específicos. Esses cálculos são expressos pelos índices fatoriais, e permitem identificar forças e fraquezas mais específicas quanto ao funcionamento intelectual. O WASI contém apenas quatro subtestes – cubos, vocabulário, semelhanças e raciocínio matricial – e permite o cálculo do QI e dois índices específicos (verbal e executivo).

Em termos técnicos, a validade e confiabilidade de ambas em todas as versões me parece igualmente satisfatório. Como a confiabilidade depende em parte do número de medidas realizadas o WASI encontra-se em desvantagem devido ao número reduzido de subtestes, mas ainda assim apresenta valores ótimos para a prática clínica. Quando às normas,  as do WAIS foram atualizadas recentemente. As normas do WISC-IV e do WASI representam bem o funcionamento dos meus pacientes no dia a dia.

Em termos práticos temos as diferenças mais substanciais. O WASI é um teste rápido: em minha experiência, raramente tomando uma sessão inteira para sua execução. O uso de dois subtestes facilita ainda mais sua aplicação clínica. Já o WAIS/WISC demandam muito mais tempo para aplicação e este tempo me parece muito mais variável (há pacientes que fazem tranquilamente em uma sessão de 90 minutos, outros levam até três sessões de mesma duração). Se seu objetivo for avaliar a inteligência do paciente de forma geral, e o tempo é uma questão importante, na maioria das vezes o WASI será a melhor opção.

Por outro lado, algumas vezes utilizamos as Escalas Wechsler não apenas para a avaliação da inteligência, mas também de aspectos mais específicos do funcionamento cognitivo. Neste caso o WASI contempla duas grandes áreas e o WISC/WAIS contempla quatro grandes áreas. Se a avaliação deve ser mais abrangente em termos de inteligência, as escalas completas levam clara vantagem sobre o WASI. Ressalto que, embora ofereçam medidas mais diversificadas, essa gama maior de funções depende de sua hipótese clínica. Caso suspeite de um transtorno ou comprometimento de aspectos mais específicos do funcionamento cognitivo (como por exemplo uma afasia) as medidas mais específicas podem ser úteis, mas lembre-se que os subtestes foram escolhidos para representar bem a inteligência geral (todos são fortemente correlacionados a ela). Caso a hipótese seja sobre uma dificuldade específica, testes mais direcionado a essas funções – os testes neuropsicológicos em geral apresentam essa especificidade – podem trazer respostas menos enviesadas pela Inteligência geral (por exemplo os testes Figura Complexa de Rey, Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey, Teste de Classificação de Cartas de Wisconsin, dentre outros).

Em síntese, caso o tempo seja uma pressão importante, fique com o WASI. Caso precise documentar múltiplos aspectos do funcionamento intelectual, fique com o WISC/WASI. Caso precise de uma medida mais geral de inteligência e documentar déficits mais específicos, combine o WASI com testes neuropsicológicos.


Escrito por:

1- Jonas Jardim de Paula. Psicólogo, mestre em neurociências (UFMG) e doutor em medicina (UFMG). Pós-doutorado no Laboratório de Neurociências da Faculdade de Medicina da UFMG.