A Interação Gene-ambiente nas Altas Habilidades/Superdotação
?Por: Vinícius Figueiredo de Oliveira
Psicólogo, mestrando pelo programa de pós-graduação em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, e pesquisador pelo Laboratório de Psicologia Médica e Neuropsicologia (LAPSIMN - UFMG).
Ao abordarmos o tema de altas habilidades e superdotação, uma pergunta que pode surgir é: as capacidades cognitivas acima da média são resultado da genética, ou do ambiente do indivíduo? A resposta mais simples seria dizer: nenhum dos dois isoladamente. Isto é, a superdotação depende da interação entre as predisposições genéticas e as experiências dos indivíduos.
Neste sentido, existem três formas de interação entre genes e ambiente que desempenham um papel importante nas características psicológicas. A primeira é a interação passiva, na qual os filhos recebem tanto os genes dos pais quanto o ambiente fornecido por eles. Este tipo de interação nos ajuda a entender, por exemplo, porque o desempenho acadêmico e profissional dos filhos tende a ser semelhante ao de seus pais. Isto é, os filhos herdam não apenas genes que contribuem para suas habilidades cognitivas, mas também herdam status socioeconômico, acesso a boa alimentação e outros recursos.
Um segundo tipo de interação é a interação evocativa, na qual as características individuais das crianças são incentivadas e estimuladas pelos pais ou pessoas próximas. Por exemplo, uma criança com habilidades de liderança pode receber estímulos desde cedo, sendo elogiada por sua capacidade de comunicação. Esses estímulos ajudam a desenvolver ainda mais a tendência da criança. Nesse sentido, o ambiente responde às características individuais, fornecendo estímulos que as fortalecem.
O terceiro tipo de interação é a interação ativa, na qual o indivíduo não apenas recebe estímulos do meio, mas também responde ativamente a ele. Pessoas com habilidades específicas têm uma tendência de buscar atividades, amizades e conteúdos que expandam e aprimorem essas habilidades. Elas escolhem ambientes que ofereçam oportunidades para desenvolver suas aptidões, ampliando ainda mais seu repertório.
Tomando estes 3 tipos de interação para o entendimento das altas habilidades, nós podemos entender como a predisposição genética pode influenciar a maneira como um indivíduo responde às demandas acadêmicas ou à aquisição de habilidades. Alguns indivíduos podem ter uma maior propensão a se engajar e se destacar em determinadas áreas de estudo e recebem, ainda, os recursos da família (interação passiva). Os responsáveis pelo indivíduo, ao notarem sua aptidão, incentivam o desenvolvimento intelectual e o colocam em atividades para promovê-lo (interação evocativa). Além disso, o próprio indivíduo vai em busca de ambientes e pessoas que convergem com seus interesses, o que reforça suas predisposições (interação ativa).
Nessa perspectiva, compreender a interação gene-ambiente nos ajuda a reconhecer que o desenvolvimento de altas habilidades e a superdotação não é determinado pela genética, mas também é influenciado pelo ambiente em que os indivíduos crescem. Ao reconhecermos a importância dessa interação, podemos construir um ambiente escolar e social mais inclusivo, valorizando e estimulando as predisposições daqueles que demonstram um grande potencial intelectual.
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BIBLIOGRAFIA
Sobre a interação entre genética e o ambiente e o desfecho desempenho escolar, recomendamos:
Simplício, H. A. T.; Haase, V. G. (2021). Pedagogia do Fracasso. Editora Ampla.