De Onde vem Nossa Capacidade de Ler?

À primeira vista, um sujeito que lê um livro ou uma página na web não tem nada demais - trata-se apenas de um ser humano parado, cuja atenção está concentrada em símbolos dos quais ele pretende retirar algum significado. O que não nos ocorre é o fascinante caminho que o cérebro da nossa espécie e daquele leitor em particular tiveram que percorrer até que tal feito fosse factível.

Pense bem: o que torna possível que uma espécie de grande primata (a nossa) consiga se emocionar, aprender, criar mundos, incitar discussões, declarar guerras ou anistias, e mudar o rumo da nossa história usando manchas de tinta em um papel ou pixels expostos em uma tela? Afinal, apesar do grande potencial da linguagem escrita, ela é uma invenção recente na história da nossa espécie, se comparada a outros comportamentos, visto que os primeiros registros escritos datam de pouco mais de 5.000 anos, ao passo que o Homo sapiens surgiu há aproximadamente 300.000 anos.

O importante naturalista Alfred Wallace (1823-1913), co-descobridor da seleção natural com Charles Darwin, notou o descompasso entre os curso dessas duas histórias (a da escrita e a nossa) e propôs que nossa capacidade de escrever e ler teria sido incutida no ser humano por um ser superior, visto que ela não seria útil no ambiente ancestral no qual nossa espécie evoluiu, e, portanto, não teria sido selecionada. Ou seja, na visão de Wallace, considerando que a escrita não aumentaria a sobrevivência ou a reprodução dos nossos antepassados caçadores-coletores, a única explicação para a sua existência seria alguma intervenção divina.

Contudo, Wallace ignorou o fato de que é possível manifestarmos comportamentos que não tenham sido diretamente selecionados no curso da nossa história evolutiva. Dizendo de uma outra forma, existem habilidades biologicamente primárias, que foram selecionadas evolutivamente, com as quais nascemos com capacidade para desenvolvê-las e, ao longo da vida, aprendemos sem grande esforço, como, por exemplo, a capacidade de inferir o que outros estão pensando. Mas, além de habilidades primárias, temos também habilidades biologicamente secundárias, que se apoiam nas primárias e são invenções culturais, que dependem de aprendizado com instrução e geralmente requerem esforço.

A leitura se encaixa nesse segundo tipo de capacidade, e daí conseguimos entender o porquê de ela demandar muito esforço, tempo e mediação para que seja adquirida. Como habilidade secundária, ela se apoia em nossas capacidades primárias de reconhecer padrões visuais e de se comunicar por meio da linguagem. Mais do que isso, o cérebro tem seus circuitos visuais e linguísticos modificados após o aprendizado da leitura.

Ficou com curiosidade para se aprofundar neste assunto? Quem nos conta essa história cativante da escrita e as mudanças causadas por ela no cérebro é o neurocientista Stanislas Dehaene em seu livro Os Neurônios da Leitura, que já se tornou um clássico da área.


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