O Que é a Hipótese da Hiperexcitabilidade?

Por: Vinícius Figueiredo de Oliveira

Psicólogo, mestrando pelo programa de pós-graduação em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, e pesquisador pelo Laboratório de Psicologia Médica e Neuropsicologia (LAPSIMN - UFMG).


O termo “hiperexcitabilidade”, ou overexcitability em inglês, foi introduzido, na década de 1960, pelo psiquiatra e psicólogo polonês Kazimierz Dabrowski, que estudou indivíduos com alta capacidade cognitiva ao longo de suas vidas para compreender seu desenvolvimento emocional elevado. Ele observou que esses indivíduos apresentavam reações em intensidades e frequências acima de indivíduos com o QI dentro ou abaixo da média. Dabrowski identificou cinco áreas específicas em que sujeitos com alto QI experimentam e respondem de forma excepcionalmente elevada: a psicomotora, a sensorial, a intelectual, a imaginativa e a emocional. Ele também observou que essas hiperexcitabilidades estão associadas ao desenvolvimento da personalidade e podem estar relacionadas a sintomas de depressão, ansiedade leve e tiques.

Este último ponto é importante de ser frisado, visto que, apesar de a hiperexcitabilidade se tratar de uma característica associada a indivíduos com alto QI, de acordo com hipóteses de Dabrowski e de pesquisadores atuais, ela nem sempre traz benefícios. Isso porque acredita-se que pessoas com QI elevado possuam padrões cerebrais mais excitáveis, ou seja, suas redes neurais apresentam respostas mais intensas para a resolução de problemas e enfrentamento de desafios cotidianos. No entanto, essa mesma capacidade intelectual também pode impulsionar características negativas e prejudiciais, visto que esses sujeitos teriam uma maior vulnerabilidade psicológica e uma fragilidade emocional e social exacerbada.

Por exemplo, achados recentes concordam com as proposições de Dabrowski ao constatar que indivíduos com QI alto tendem a passar mais tempo na atividade de ruminação mental, que consiste na revisão e reavaliação de situações passadas, principalmente as negativas¹. Já foi encontrado, também, que crianças superdotadas têm reações emocionais e comportamentais mais intensas², o que chama atenção de pesquisadores e profissionais da área da saúde, visto que a reatividade emocional aumentada e a ruminação mental podem predizer sintomas de ansiedade e depressão³. Além do desenvolvimento de sintomas relacionados à depressão e ansiedade, outras pesquisas apontam que pessoas com altas habilidades intelectuais estão mais propensas a desenvolver uma variedade de transtornos mentais, como transtorno bipolar, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno do espectro autista, além de quadros alérgicos, asma e doenças autoimune4.

Apesar dos estudos supracitados, existem, também, dados e grupos de pesquisa que contestam a hipótese da hiperexcitabilidade como um fator de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais e outras condições em indivíduos com QI alto. Ou seja, são necessários mais estudos nessa área para que se atinja um consenso. A partir de achados futuros e robustos, a compreensão da relação entre alta inteligência e transtornos mentais pode ter um impacto significativo tanto para o indivíduo com alto QI quanto para profissionais e pessoas que os acompanharão.

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REFERÊNCIAS

¹Penney, A. M., Miedema, V. C., & Mazmanian, D. (2015). Intelligence and emotional disorders: Is the worrying and ruminating mind a more intelligent mind?. Personality and Individual Differences, 74, 90-93.

²Gere, D. R., Capps, S. C., Mitchell, D. W., & Grubbs, E. (2009). Sensory sensitivities of gifted children. The American Journal of Occupational Therapy, 63(3), 288-295.

³Nolen-Hoeksema, S. (2000). The role of rumination in depressive disorders and mixed anxiety/depressive symptoms. Journal of abnormal psychology, 109(3), 504.

4Karpinski, R. I., Kolb, A. M. K., Tetreault, N. A., & Borowski, T. B. (2018). High intelligence: A risk factor for psychological and physiological overexcitabilities. Intelligence, 66, 8-23.