O que são Avaliações Diretas e Indiretas na Neuropsicologia?

Por: Vinícius Figueiredo de Oliveira

Psicólogo, mestrando pelo programa de pós-graduação em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, pesquisador pelo Laboratório de Psicologia Médica e Neuropsicologia (LAPSIMN - UFMG), professor de psicologia da Faculdade Presbiteriana Gammon.


A avaliação neuropsicológica pode ser utilizada para diversos fins, como, por exemplo: exame complementar diagnóstico, identificação de alvos terapêuticos e acompanhamento longitudinal. Para que a avaliação cumpra devidamente seus objetivos, busca-se traçar um perfil do paciente de forma a identificar dificuldades e potencialidades. Esse perfil é levantado a partir da coleta de informações que provêm, idealmente, de diversas fontes.

O que quer dizer “coletar informações de diversas fontes”? Quer dizer que, além dos dados que coletamos através de testes neuropsicológicos e do relato do paciente, é necessário buscar informações de pessoas de convívio próximo (por exemplo, pais, responsáveis, irmãos, etc), bem como de outros profissionais que acompanham o avaliando, como médicos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e professores. Isto é feito com vistas a verificar se há convergência nos relatos das diversas fontes, uma vez que a consistência de tais informações permite traçar um quadro mais fidedigno do perfil do paciente. Esta diversidade de fontes pode ser agrupada em duas formas de coleta de dados sobre o paciente: a direta e a indireta. Compreender esses conceitos é importante para verificarmos as contribuições e as limitações de cada uma delas, o que reforça a necessidade de usá-las de maneira complementar durante a avaliação neuropsicológica.

A avaliação direta é realizada por meio de instrumentos padronizados aplicados no contexto clínico pelo neuropsicólogo. O objetivo dessa avaliação é obter informação sobre o funcionamento das habilidades cognitivas do paciente, isto é, se elas estão preservadas ou não, ou como se comportam em relação à média. Alguns exemplos de funções avaliadas são inteligência, linguagem, atenção, percepção visuoespacial e memória.

Deve-se levar em conta, nesse caso, que a aplicação de instrumentos padronizados se dá em um ambiente controlado, e as tarefas são elaboradas com o objetivo de tentar isolar as funções recrutadas. Portanto, a primeira limitação da avaliação direta é que, muitas vezes, seus resultados não refletem as dificuldades ecológicas do indivíduo, isto é, seus prejuízos funcionais diários. Uma segunda limitação é que o resultado no teste - sobretudo um baixo desempenho - pode ser resultante de diversos fatores que não seja a capacidade real do paciente. Interferências como privação de sono, fome, ansiedade, desmotivação, ambiente de testagem inadequado, estresse, dentre outros podem afetar os resultados do teste.

Em parte, as avaliações indiretas nos auxiliam a contornar algumas das limitações citadas. Esse tipo de avaliação se refere à investigação das funções cognitivas do paciente através de relatos, entrevistas e escalas. A partir dessas informações, é possível traçar um perfil de funcionalidade do paciente, que nem sempre conseguimos captar com os testes padronizados. As limitações das avaliações indiretas dizem respeito a possíveis vieses dos informantes. Isto é, o relato que o paciente faz sobre si mesmo ou que outras pessoas fazem sobre o ele pode ser influenciado por fatores como limitação da memória, personalidade do informante e proximidade com o paciente. Como dito anteriormente, para reduzir o risco de tirar conclusões com base em percepções individuais, o clínico deve considerar outros informantes de forma a julgar a convergência e a divergência dos relatos.

Utilizando os dois tipos de avaliação de maneira complementar, temos maiores chances de compreendermos o perfil de déficits e potencialidades do paciente, o que permitirá, consequentemente, direcionar para uma melhor intervenção.


Quer se aprofundar no assunto e tomar contato com conhecimentos essenciais para a sua formação como neuropsicólogo(a)? Faça sua inscrição na nossa pós-graduação em neuropsicologia!

Clique aqui e saiba mais!


REFERÊNCIAS

Júlio-Costa, A., & Antunes, A. M. (2017). Transtorno do espectro autista na prática clínica.

Malloy-Diniz, L. F., Fuentes, D., Mattos, P., & Abreu, N. (2018). Avaliação Neuropsicológica-2. Artmed Editora.