Por Que Não Devemos Simplificar as Causas de um Comportamento

No dia a dia, temos a tendência a atribuir o comportamento a causas simples. É comum ouvirmos por aí frases como: “ele é teimoso porque não recebeu afeto”, “ela é inteligente porque é filho de fulano”, etc. Em manchetes jornalísticas, a simplificação vem de afirmações como “cientistas encontram o gene da raiva” ou “Pesquisas provam que você é fofoqueiro por causa da evolução”.

No entanto, apesar de tais explicações, por vezes, soarem convincentes, elas desconsideram uma miríade de fatores que, integrados, resultam na ação de um indivíduo. Isto é, o comportamento é multifatorial, o que quer dizer que ele é resultado de causas cerebrais, hormonais, desenvolvimentais, pré-natais, genéticas, sociais, ambientais, culturais e evolutivas. Portanto, isolar um único fator pode ser persuasivo, mas, no contexto científico, trata-se de um erro ou de desonestidade intelectual.

Neste sentido, um bom direcionamento foi fornecido pelo etólogo Nikolaas Tinbergen, o qual propôs que haveriam 4 explicações ou níveis de análise para um comportamento. Esses níveis seriam complementares, e teríamos que levá-los em conta para compreendermos por completo por que um organismo age de certa forma. Abaixo estão descritos cada um dos 4 níveis de análise.


Mecanismos cerebrais e fisiológicos: Trata-se do exame do funcionamento dos sistemas que culminam na realização de um comportamento. Pode-se analisar o cérebro, os hormônios, os órgãos e vias da percepção, etc.


Causa ontogenética: Investiga o desenvolvimento de um indivíduo específico, principalmente, com o objetivo de avaliar como as experiências de vida interagem com predisposições a ponto de gerar o comportamento.


Causa Filogenética: Nenhum comportamento surgiu do nada e pronto como o conhecemos. A filogenia investiga a história da espécie e da característica analisada, identificando os estágios intermediários e a presença do comportamento em outros seres.


Causa adaptativa: Diz respeito à maneira como um comportamento (ou os mecanismos subjacentes a ele) aumentou a sobrevivência ou a reprodução dos indivíduos do passado. Ou seja, o foco é na vantagem adaptativa de uma característica.


Como foi possível notar, os 4 níveis são abrangentes e podem ser subdivididos em áreas de estudo, mas a simples compreensão de sua existência já permite verificar a multiplicidade do nosso objeto de pesquisa. Em resumo, o estudo do comportamento estará fadado ao fracasso caso concentre seus esforços em apenas uma área de investigação, ou caso entenda que um alvo de pesquisa independe ou se contrapõe a outros (por exemplo, acreditar que o estudo da evolução do comportamento exclui a influência meio social).

Com vistas a combater vieses semelhantes e a introduzir estudantes e profissionais no estudo de tópicos fundamentais da psicologia, a 5ª edição do livro Ciência Psicológica, de Michael Gazzaniga, Todd Heatherton e Diane Halpern fornece uma visão abrangente sobre a história da psicologia, os métodos de pesquisa, a biologia do comportamento, a consciência e outros processos cognitivos, diferenças individuais, transtornos psiquiátricos e muitos outros assuntos. Trata-se de uma leitura essencial para qualquer um que deseja compreender a psicologia com um olhar verdadeiramente científico e se introduzir no aprendizado das inúmeras causas de um comportamento.

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> Ciência Psicológica - 5º Edição