Quais as diferenças entre Avaliação Psicológica e Avaliação Neuropsicológica?

Por: Vinícius Figueiredo de Oliveira

Psicólogo, mestrando pelo programa de pós-graduação em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, e pesquisador pelo Laboratório de Psicologia Médica e Neuropsicologia (LAPSIMN - UFMG).


Além dos nomes serem parecidos, há outros fatores de convergência que fazem com que as pessoas confundam a avaliação psicológica com a neuropsicológica. Alguns deles seriam o uso de instrumentos padronizados, a descrição do funcionamento cognitivo e/ou comportamental dos indivíduos, e a síntese dos resultados em um laudo ou documento psicológico. Contudo, trataremos aqui das divergências entre esses dois processos.

Talvez, uma maneira fácil de compreender as diferenças é começar pela origem das duas formas de avaliação. A avaliação psicológica surgiu no final do século XIX e o objetivo era desenvolver métodos científicos para a mensuração de fenômenos psicológicos, sobretudo nos contextos educacional e corporativo. Com o passar do tempo, ela não se restringiu apenas à aplicabilidade de instrumentos desenvolvidos, mas se baseou em construção de testes e técnicas psicométricas para permitir que construtos psicológicos fossem investigados, seja em ambiente experimental ou fora dele. Isto é, atualmente, a avaliação psicológica pode estar presente em vários contextos com o objetivo de descrever o funcionamento psicológico de indivíduos com vistas a orientar decisões, por exemplo, no hospital, na clínica, na escola, em organizações, no esporte e no departamento de trânsito.

A avaliação neuropsicológica, por outro lado, emerge em contextos cujo objetivo era descrever déficits cognitivos e comportamentais de pacientes a partir da análise de lesões cerebrais ou da comparação entre o funcionamento normal e patológico do sistema nervoso. Isto é, o surgimento da neuropsicologia é evidentemente clínico, e até hoje busca responder a demandas em que há suspeitas de alterações clínicas no funcionamento do indivíduo, tendo estendido suas áreas de atuação não apenas a hospitais e consultórios, mas também a ambientes jurídicos e escolares.

Então, como podemos descrever as diferenças? Uma delas é que, visto que a neuropsicologia é uma área interdisciplinar, o psicólogo não é o único profissional que pode realizá-la. De fato, há neuropsicólogos com formação em fonoaudiologia, medicina, fisioterapia, pedagogia, etc. A avaliação psicológica, todavia, é restrita ao psicólogo. Além disso, com base nos parágrafos anteriores, observa-se que a neuropsicologia se concentra em demandas clínicas e diagnósticas, enquanto a avaliação psicológica atende não só a esse serviço mas também a outros, por exemplo, orientação profissional, habilitação veicular no trânsito, concessão do porte de arma, seleção de pessoas, etc.

Outra diferença é que, na medida em que a avaliação psicológica está preocupada em descrever os fenômenos psicológicos, a interpretação dos resultados dos testes se concentra na comparação entre o desempenho do indivíduo com o desempenho do restante da população (análise nomotética), enquanto a neuropsicologia alia à essa análise a observação do como o indivíduo se desempenha no momento do teste e em outros momentos (análise idiográfica). Ou seja, a análise qualitativa é essencial para a realização de uma boa avaliação neuropsicológica, enquanto o uso dessa análise na avaliação psicológica varia da atuação de cada profissional. De qualquer forma, as duas modalidades de avaliação reconhecem que a análise qualitativa e quantitativa são complementares.

Em suma, os dois processos de avaliação são complexos, dinâmicos e podem estar presentes em diversos contextos de forma a atender a múltiplas demandas. Mas enquanto a avaliação psicológica é feita por psicólogos para mensurar os fenômenos psicológicos para pesquisa e tomada de decisão, a avaliação neuropsicológica é eminentemente clínica, preza pela análise idiográfica, e pode ser realizada por profissionais de múltiplas áreas para diagnóstico e orientação de intervenção, desde que devidamente qualificados para tal.

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BIBLIOGRAFIA

Mansur-Alves, M. (2018). Contrastando avaliação psicológica e neuropsicológica: acordos e desacordos. In Malloy-diniz, L F., Fuentes, D., Mattos, P., Abreu, N. (coords), Avaliação Neuropsicológica. Porto Alegre: Artmed Editora.