A compreensão do texto lido é o objetivo final da alfabetização e do engajamento cotidiano na leitura. Compreender um texto, neste caso, implica assimilar a(s) informação(ões) transmitida(s) pelo autor. À primeira vista, a leitura correta das palavras pode parecer suficiente para entendermos o significado de algo escrito, contudo, por se tratar de uma tarefa que requer concentração e automonitoramento contínuo, outras habilidades cognitivas são recrutadas para que a compreensão de leitura seja atingida.¹ Detalharemos algumas delas a seguir.

Como mencionado anteriormente, a leitura correta das palavras é um componente fundamental para a boa compreensão do texto. E não basta apenas que o indivíduo seja capaz de saber qual é a palavra lida, visto que, em um texto, é necessário que o entendimento seja preciso e esteja em velocidade adequada, além de ser fundamental que o leitor tenha conhecimento da imensa maioria das palavras com as quais ele toma contato. Da mesma maneira, o conhecimento a respeito da estrutura da forma textual aumenta as chances de sucesso na compreensão².

Um outro conjunto de capacidades cognitivas essenciais para a boa compreensão do texto trata-se das funções executivas (FE)³. Tais habilidades estão envolvidas em atividades que exigem traçar metas, elaborar planos e ajustar comportamentos, de forma a atingir um objetivo. Durante a compreensão de leitura, as FE permitem organizar informações, refletir sobre o que foi lido, realizar inferências, inibir estímulos irrelevantes, e monitorar o seu próprio entendimento.

Em suma, um leitor eficiente processa: os significados das palavras individuais de maneira a conectá-los; os significados das frases, que, também, são conectados entre si; a informação básica de um parágrafo, que será, também, concatenada às ideias dos demais parágrafos; e toda a informação textual se une ao conhecimento prévio do leitor, de forma a atingir a compreensão do texto². Neste ponto, é importante enfatizar que a aquisição da capacidade de compreensão requer o ensino explícito de suas estratégias. Isto é, os alunos devem ser diretamente ensinados a monitorar a leitura, analisar seu entendimento, relacionar as informações, e aplicar os devidos métodos para corrigir a incompreensão, quando for o caso.

Tendo em vista todo o processo descrito, é possível perceber que um indivíduo pode ler palavras com precisão e fluência adequadas, e, ainda assim, não conseguir responder qual era o assunto abordado no texto. Esta situação, na verdade, já aconteceu com todos: nós lemos frases e frases repetidamente, e, ao chegar ao fim do parágrafo, não conseguimos lembrar do que foi lido. Geralmente isso ocorre quando não estávamos prestando atenção completamente na leitura, ou quando se trata de um texto hermético ou de um assunto inteiramente novo para nós.

Dito tudo isto, notamos o quão impressionante é a sua capacidade, como leitor, de compreender o que eu acabo de escrever, visto que você precisou de automatizar uma série de processos cognitivos de forma a tornar a tarefa mais fácil, além de ter necessitado recrutar várias outras capacidades para atingir o objetivo final. O prejuízo em qualquer um desses processos seria o suficiente para que essas palavras escritas não fossem compreendidas. Isto implica que todo bom leitor depende do funcionamento de todos esses processos, porém, cada mau compreendedor pode sê-lo por um motivo diferente.

Não temos, ainda, uma resposta definitiva sobre quais são todos os processos envolvidos na compreensão de leitura. No entanto, as investigações ainda continuam, e se utilizam da própria leitura como um recurso essencial para a troca de informações entre pesquisadores e curiosos capazes de recrutar seus processos cognitivos para compreender os textos de outros e avançar o conhecimento da área.

E para aqueles que querem se aventurar em leituras que cobrem o assunto de maneira excelente, recomendamos o livro “Compreensão de leitura: Teoria e Prática”, dos autores Jane Oakhill, Kate Cain e Carstein Elbro, e o livro “Pedagogia do Sucesso”, organizado pelos autores Vitor Haase, Henrique Simplício e Simone Benedetti.

Por: Vinícius Figueiredo de Oliveira

Psicólogo, mestrando pelo programa de pós-graduação em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, e pesquisador pelo Laboratório de Psicologia Médica e Neuropsicologia (LAPSIMN - UFMG).

REFERÊNCIAS

¹Oakhill, J., Cain, K., & Elbro, C. (2017). Compreensão de leitura: teoria e prática. São Paulo: Hogrefe CETEPP.

²Haase, V. G.; Simplício, H. A. T.; Benedetti, K. S. (2022). Pedagogia do Sucesso. Ampla Editora.

³Follmer, D. J. (2018). Executive function and reading comprehension: A meta-analytic review. Educational Psychologist, 53(1), 42-60.